quinta-feira, novembro 22, 2012

Protagonista desfalcado (todos somos)


Ainda me lembro daquele terror, não sei se era um terror imposto, sei que tinha pânico, tinha medo do mais próximo de mim.

Nascer no meio do problema dos outros é estranho... "Será que é culpa minha?"
Sei que me perguntava muito isso entre as paredes de minha casa, paredes rusticas, sem cor... Aquele cheiro de umidade da parede, me lembra essa época triste, o foda é ver todo o curto caminho que corri e perceber que realmente se engana quem sorri para tudo na vida.
Ainda me lembro daquele cheiro doce, me obriga a lembrar de tudo, devaneios da vida, as vezes me pego sozinho no vázio, e sinto aquele cheiro, porém é só ilusão, o único cheiro doce da minha vida foi de mentira, quando ainda era verdade deu adeus sem ao menos perguntar se realmente não iria fazer falta.... Lembro que o cheiro doce de minha vida me lembra a morte, a morte não é doce nem amarga, é como água, sem gosto, e ela se molda sobre você.
Se você sente o cheiro da morte uma vez, ela ficará como uma roupa que você nunca vai trocar, a morte tatua sua alma.
O doce cheiro nasceu do cheiro da umidade, daquele terror, se foi doce, se moldou a mim, e me largou no terror novamente.
Ainda me moldando a morte, lembro do cheiro do chão da rua, da minha cara no portão, lembro dos cacos das garrafas se quebrando em mim, do cheiro do sangue que caía, lembro de ser salvo. Não me contentei com essas feridas, dia após dia me via de novo com a cara no chão. Dia após dia lembro de esperar aquela moça passar com seu carrinho de bebê, e pedir um cigarro para ela, o cheiro do cigarro, agora não me agrada, mas já o usei como fuga daquele cheiro doce, como cheiro do chão e minha cara no portão também eram fuga do doce cheiro, eram fuga das minhas vestes da morte.
De repente um ano se acabou, um ano mais chato estava para começar, e eu nem sabia que seria tão ruim, lembro do cheiro daquele sabonete, até hoje quando uso um lembro, como era ruim aquele lugar para mim, gente nojenta, preferia ter a cara ao chão, e as garrafas sobre mim, as vezes acho que só tive uma visão preconceituosa, mas sei que eu queria que as coisas se acertassem. Onde eu me sentava para esperar o sinal tocar era cheio de mosquitos, apesar de ter medo de pegar uma doença era lá que eu ficava, no canto mais escondido, com medo daqueles olhares, mesmo com medo eu devolvia os olhares, mais tarde descobri que eu era aterrorizador, ninguém me entendia, mas eu também não os entendia. Larguei tudo. Mudei para SP, apesar de doer as vezes aqui eu ganhei novos cheiros doces, e eles ainda não me largaram.
Mas agora as roupas da morte são como armadura, apesar desse cheiro doce me adoecer ao partir, eu já terei um mapa para me encontrar mais facilmente. Sei agora que não adianta eu me iludir achando que sorrir para vida tudo se solucionará sozinho, fé pode até ser bom, com uma medida certa, mas para mim nem uma grama de fé serve, hoje só me pesa. Conquiste as coisas boas da vida sozinho, não dependa mais dos outros para se realizar, foi isso que aprendi quando conheci a morte.


Ícaro Leandro M. de Souza

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